Personagens do espiritismo

Afonso de Liguori

Nasceu na casa de fazenda do seu pai, em Marinella, perto de Nápoles, em 27 de setembro de 1696. Era de família antiga e nobre. Seu pai, Dom José de Liguori, foi um oficial naval e Capitão Real de Galés. Sua mãe era descendente de espanhóis

Era o mais velho de sete crianças e a esperança da sua casa. Brilhante e rápido, fez grandes progressos em todos os tipos de aprendizado. Seu pai fazia-o praticar cravo três horas por dia, e na idade de treze anos ele tocava com perfeição de mestre.

Cavalgava e praticava esgrima como recreação. Afirmava não poder se tornar um atirador devido a sua péssima pontaria. Na sua mocidade, tornou-se um aficionado em ópera. Quando subiam as cortinas, ele tirava os óculos para não ver os atores distintamente e assim melhor se extasiar com a música.

Afonso não foi educado em escolas mas, sim, por tutores, sob o olhar vigilante do seu pai. Aos 16 anos, em 21 de janeiro de 1713, formou-se em Direito, embora o normal fosse graduar-se com 20 anos de idade. Diziam que ele era tão pequeno na época que a toga o engolia, arrancando risos da plateia. Logo após a sua formatura, estudou para os exames da Ordem dos Advogados, e aos 19 anos já praticava a sua profissão na Corte.

Em 8 anos de carreira como advogado, afirma-se que ele jamais perdeu uma causa. Contudo, em 1723, Afonso foi um dos advogados numa ação judicial entre um nobre napolitano e o Grão Duque de Toscana, cuja propriedade valia 500.000 ducados. Após proferir um brilhante discurso de abertura, sentou-se confiante na vitória. Mas, um documento, por ele lido e relido, mas entendido em forma diversa da que foi apresentada pelo seu oponente, no Tribunal, fez com que ele perdesse a causa.

Durante 3 dias ele recusou qualquer tipo de alimento. Depois da tempestade passada, começou a pensar que a humilhação da derrota tinha sido enviada a ele por Deus, para quebrar o seu orgulho e afastá-lo do mundo. Estava seguro de que algum sacrifício era necessário, embora não soubesse exatamente qual seria.

Desgostoso, apesar da consternação do pai, resolveu abandonar a carreira de advogado. Para se manter ocupado, passou a visitar doentes em hospitais de incuráveis. 

Em agosto de 1723, exatamente durante uma dessas visitas ao Hospital de Incuráveis, subitamente se viu rodeado por uma luz misteriosa e uma voz interior lhe disse: Deixa o mundo. Dá-me de ti mesmo. Tendo se repetido o fato mais uma vez, Afonso tomou a solene resolução de entrar para o corpo eclesiástico. Como padre, continuou a trabalhar em um Hospital de Incuráveis, assistiu os condenados à forca, foi amigo dos marginalizados, considerados uma chaga da sociedade em Nápoles.

Numa cidade de cerca de 500 mil habitantes e 15 mil sacerdotes, Afonso se destacou como um homem extraordinário que realizou o seu trabalho em situações difíceis e ingratas. Eram em torno de 40 mil os desclassificados em Nápoles e ele passou a realizar capelas noturnas. Eram reuniões do povo nas ruas e nas praças para o ensino do Evangelho, oração e encontro fraterno.

No púlpito, tinha um estilo inteligente, simples e sincero, que enchia os corações com amor e misericórdia. No confessionário, preocupava-se muito mais em atender as criaturas, do que em punir os criminosos.

Apesar de tudo, mantinha-se inquieto. Trazia a intuição de que algo mais deveria ser feito. Foi após um encontro com o povo pobre das montanhas, pastores de ovelhas e cabras, que ele decidiu: iria trabalhar entre os pobres mais pobres.

Junto a um grupo de companheiros, fundou em 9 de novembro de 1732, em Scala, nas proximidades de Nápoles a Congregação Redentorista. Era a sua resposta ao considerado terceiro mundo. constituído de pobres e abandonados, pois os missionários redentoristas deviam viver no meio dos abandonados, na época, especialmente aqueles das zonas rurais.

Escritor, escreveu 113 obras teológicas, ascéticas, místicas e pastorais que chegaram a atingir 60 edições. Também deixou escritas 1.700 cartas. Para compor a sua obra principal, a Teologia Moral, leu 800 autores, anotando em fichas.

Com um anseio de saber, buscava nas livrarias de Nápoles as mais recentes obras de seu tempo, de forma constante. Homem versátil, foi também poeta, músico e pintor. Como gramático, escreveu regras gramaticais com o objetivo exclusivo de alfabetizar um irmão na Congregação. Trabalhador incansável, serviu como pedreiro na construção da primeira casa de retidos da Congregação.

Com tanto trabalho e dedicação, teve ainda que enfrentar uma insidiosa enfermidade, que fez da sua vida um martírio. Por oito vezes, esteve à morte. Um ataque de febre reumática, no período de maio de 1768 a junho de 1769, terminou por deixá-lo paralisado até o fim dos seus dias. Pelo resto da sua vida física, ele teve que tomar seus alimentos através de tubos.

Mesmo com toda esta problemática, ele somente poderia retornar para sua pequena cela em Noccera, em julho de 1775, dispensado então dos serviços pelo Papa. Foram mais 12 anos de grandes aflições e sofrimentos físicos e morais. Estes últimos, por questiúnculas que envolveram a Congregação e que afetaram muito a Afonso.

Aos 91 anos de idade, em 1º de agosto de 1787, ele desencarnou. Reconhecendo seus grandes méritos, a Igreja  resolveu elevá-lo à categoria de Santo, concedendo-lhe a canonização 49 anos após a sua morte. Em O Livro dos Médiuns (parte 2, cap. VII, item 119), o Codificador refere-se a essa canonização antes do tempo prescrito, por ter sido visto Afonso, durante sua vida terrena, em dois lugares diversos, ao mesmo tempo: em sua cela de sacerdote e assistindo o Papa, em processo de desencarnação, no Vaticano, o que passou por milagre.

Na mesma obra, o próprio Afonso, indagado por Kardec, responde às questões de números 1 a 4, a respeito da bicorporeidade. Em 1871, o Papa Pio IX conferiu-lhe o título de Doutor da Igreja e, em 1950, Pio XII proclamou-o Patrono dos Confessores e Professores de 


Teologia Moral. Harold Castle. Transcribed by Paul T. Crowley

The Catholic Encyclopedia, v. I, Copyright © 1907 by Robert Appleton Company

Online Edition Copyright © 1999 by Kevin Knight. Em 16.4.2020.

Benjamin FRANKLIN

Ele foi chamado por Mirabeau, líder revolucionário francês, como o filósofo que mais fez para estender os direitos do homem sobre toda a Terra. Foi impressor e autor, filósofo e homem de Estado, cientista e inventor. Um dos homens mais importantes que o continente americano produziu.

De caráter simples, tinha uma personalidade agradável e um senso de humor delicioso. Quando jovem, tinha um físico de atleta, algo que não podemos verificar pois os retratos conhecidos já o apresentam quando homem de Estado. Seu olhar era sereno, afetuoso, destacando-se seus grandes olhos cinzentos e uma boca grande, com expressão de bom humor, no rosto amplo.

Benjamin Franklin nasceu em Boston, em 1706, como o 15º filho entre 17, de um pobre fabricante de velas. Frequentou a escola pouco mais de um ano, pois cedo o pai o pôs a trabalhar. Quase tudo o que sabia aprendeu à custa de esforço próprio, por si mesmo: Ciência, Filosofia, línguas. Falava o latim, francês, alemão, espanhol e italiano.

Aos 12 anos, já era aprendiz na oficina do irmão, que era impressor. Aos 17, escrevia artigos anonimamente e os colocava, à noite, por baixo da porta para que fossem publicados pelo irmão. Nesse mesmo ano, foi a Nova York e começou a trabalhar numa editora. Depois, estabeleceu-se por conta própria. Fundou um jornal e uma revista.

Aos 42 anos, já conseguira juntar uma pequena fortuna. A partir daí, dedicou outros 40 anos de sua vida a serviço da pátria. Foi designado para missões diplomáticas, por duas vezes, na Inglaterra e uma na França.

Como político, foi o primeiro a pensar nos Estados Unidos como uma única nação e inventou um sistema de governos estaduais unidos sob uma única autoridade, 20 anos antes da guerra da Independência Americana.

Como cientista e inventor, foi o primeiro a identificar os polos negativo e positivo da eletricidade. A ele devemos as palavras e os conceitos de bateria, carga elétrica, condensador e condutor. Inventou o para-raios, uma mão mecânica para levantar objetos situados em lugares altos e o tamborete de cozinha que se transforma em escada.

Aos 78 anos de idade, inventou a bênção dos óculos bifocais. Como músico, tocava harpa, violão e violino e escreveu sobre os problemas da composição musical. Foi o primeiro a estudar os efeitos da água sobre o casco de um navio durante a navegação, convertendo-se no pai da hidrodinâmica. Também foi o primeiro a descobrir que o tecido escuro retém o calor. Os europeus levaram cem anos para seguir seu conselho e levar roupa branca para os trópicos.

Organizou a Sociedade Filosófica Americana, a primeira associação científica dos Estados Unidos. Criou a primeira corporação de polícia profissional e o primeiro serviço de bombeiros voluntários. Também deu impulso à Sociedade Abolicionista e, na qualidade de diretor-geral dos Correios, melhorou o serviço nacional e internacional, com a Inglaterra.

Foi, possivelmente, o escritor mais popular no mundo de língua inglesa, com sua Autobiografia, Édito do Rei da Prússia, Regras pelas quais um grande Império pode se tornar pequeno, O almanaque do pobre Richard e um livro sobre os fenômenos elétricos, que foi traduzido para vários idiomas.

Ele pregava a alegria do trabalho e praticava o que pregava. Tinha um cuidado especial com as descobertas de outros, insistindo para que a autoria fosse sempre atribuída aos autores corretos. Em muitas ocasiões, retirava seus trabalhos se outro pesquisador tivesse descoberto alguma coisa parecida com eles.

Acreditava que podia melhorar o próprio caráter se a criatura se impusesse uma disciplina firme. É uma arte que tem de ser estudada, como a pintura e a música, dizia.

Quando jovem, fez uma lista das qualidades dignas de se admirar e se propôs a persegui-las: ia ser moderado no comer, evitaria a tagarelice, seria sistemático nos negócios, terminaria qualquer tarefa que começasse, seria sincero, trataria os outros com justiça, suportaria as injustiças com paciência, evitaria as extravagâncias, não deixaria que as pequenas coisas o afetassem.

Organizou um pequeno livro para si, separando uma página para cada virtude, a fim de dedicar uma semana de atenção a cada uma delas, de forma sequencial.

Ao desencarnar, no ano de 1790, aos 84 anos, foi encontrado o epitáfio que ele mesmo escrevera, para si, nos dias da mocidade: O corpo de Benjamin Franklin, impressor, como a capa de um livro velho ao qual tivessem arrancado as páginas e tirado as letras e o ouro, jaz aqui, comida para os vermes. Mas o trabalho não terá sido totalmente perdido; porque, segundo ele crê, aparecerá mais uma vez, numa edição nova e mais perfeita, corrigida e aumentada por seu Autor.

Para ele, dois anos antes, escrevera George Washington: Se os desejos unidos de um povo livre, apoiados pelas preces fervorosas de todos os amigos da ciência e da humanidade, pudessem aliviar o corpo das dores e enfermidades, logo ficaria bom. Se ser venerado por sua benevolência, admirado por seu talento, estimado por seu patriotismo, amado por sua filantropia puder satisfazer a mente humana, terá o agradável consolo de saber que não viveu em vão. O senhor será recordado com respeito, veneração e afeto por este seu sincero amigo e mais obediente e seguro servidor.

Benjamin Franklin, entre outros Espíritos, assina Prolegômenos em O Livro dos Espíritos, demonstrando fazer parte daqueles que se fizeram presentes ao trabalho extraordinário da Codificação da Doutrina Espírita.

1. Grandes vidas, grandes obras, Seleções Reader's Digest, 1968.

Bento de Núrsia – SÃO BENTO

Os dias eram assustadores. Os chamados bárbaros, povos do Norte, estão chegando às portas de Roma. Em Núrsia (Itália Central), cada viajante que chega com notícias é recebido com alvoroço. O povo se comprime para ouvir as novas, cada vez mais alarmantes. Corre o ano de 480.

Sob esse clima é que nasce o menino Bento, filho de uma das mais ricas famílias do lugar. Seu nascimento passa quase despercebido, ante a inquietação que vive o povoado.

Seu pai tem grandes planos para ele. Em pleno ocaso da civilização romana, em plena juventude, Bento é encaminhado a Roma, para o estudo de Humanidades. O pai almeja-o funcionário com carreira brilhante. Estuda gramática, retórica, que abre caminho ao cursus honorum que proporciona poder, honra e boas relações aos jovens de sangue romano e regular fortuna.

Bento se cansa com rapidez desse ambiente, onde os romanos desprezam os que consideram bárbaros. Aos 18 anos, observando a declarada guerra entre duas facções religiosas pelo trono papal, desilude-se do estudo, da ciência e busca um refúgio para se isolar, desejando servir a Deus.

Penetra no vale de Subiaco e, encontrando um monge de nome Romano, toma de um simples hábito de frade e adentra uma caverna, aberta na rocha. Durante três anos, alimentado pelo pão que lhe oferta Romano, através de um cesto que baixava com uma corda, vive Bento isolado.

Até que um dia, enfrentando os penhascos, um sacerdote encontrou Bento. Compartilham a refeição, conversam longamente. Após sua partida, Bento se põe a pensar: ele havia descoberto uma nova forma de viver a religião, sem suprimir os prazeres serenos da amizade.

Cogita assim, fundar uma comunidade religiosa. Enquanto amadurece a ideia, monges o buscam e pedem-lhe para ser seu Abade, próximo de Vicovaro. Eles viviam como anacoretas, isto é, cada qual por conta própria, reunindo-se somente para rezar e comer e desejam ser orientados por Bento, que conta, então, 30 anos de idade.

Ele somente aceita, depois de muita insistência. Logo, por estabelecer regras rígidas de disciplina, eles atentariam contra sua vida. Sem rancor, rogando a Deus para que os abençoe, ele retorna a Subiaco, onde orienta os que ali se reuniam na construção de doze mosteiros espalhados por vales e colinas.

Subiaco se transforma em um centro para aprendizado e espiritualidade. Um frade de nome Florêncio, invejoso da tarefa que desenvolve Bento e suas comunidades, tenta acabar com o trabalho, difamando-o. Não o conseguindo, envia-lhe um pão envenenado, em nome da paz e da caridade.

Salvando-se do novo atentado à sua vida, Bento resolve abandonar a região. Com cerca de 50 anos, decide aplicar os frutos da sua experiência. Em Monte Cassino, funda uma comunidade onde se alia à penitência, o trabalho, a oração e a alegria.

Alguns monges o seguem e ele organiza o mosteiro. Um lugar aprazível, cuja construção se baseia fundamentalmente na velha casa de campo romana. Tudo nela deve revelar o ideal monástico: satisfazer às exigências da oração e da vida comum; dar hospitalidade aos refugiados; dispor de locais para as tarefas indispensáveis.

As regras são rígidas. Os monges se levantam às duas da madrugada. As primeiras horas são para a oração e o ofício da aurora. Depois, uma hora de leitura e meditação. A horta, o campo, as demais atividades no mosteiro lhes tomarão oito horas. Depois da ceia da noite, um pouco mais de oração e vigilância, antes de se recolherem aos leitos.

Monte Cassino foi uma revolução em termos de comunidade religiosa, dando início ao monasterismo ocidental.

Numa época em que as facilidades concedidas pelos imperadores, a convivência com o poder e as conversões em massa, por vezes superficiais, traziam o afrouxamento da religiosidade, o afastamento do mundo parecia ser uma condição mais favorável para se chegar à prática religiosa.

Os últimos dias de Bento são repletos de pressentimentos. Prediz a própria morte. Também vaticinou que o Mosteiro de Monte Cassino seria destruído, o que ocorreu 30 anos depois, durante uma invasão lombarda.

Seis dias antes da sua morte, Bento mandou que fosse aberta a sepultura, ao lado do túmulo de sua irmã, Escolástica (considerada Santa pela Igreja Católica), por quem tinha grande apreço. No dia 21 de março de 547, acometido de febres, enquanto orava no altar, expirou.

Em O Livro dos Médiuns, cap. XXXI, item V, assinando-se São Bento, escreve: É bela e santa a vossa Doutrina. (...) A estrada que vos está aberta é grande e majestosa. Feliz daquele que chegar ao porto. (...)

No ano de 1964, a 24 de outubro, o Papa Paulo VI o proclamou Patrono principal da Europa, por ter sido mensageiro de paz, operador da unidade, mestre de civilização e, sobretudo, exemplo de fé e iniciador da vida monástica no Ocidente.

Na arte litúrgica ele é mostrado como um monge carregando uma cópia da sua Regra ou lendo um livro.

Fontes: 1. Grandes personagens da História Universal, Abril Cultural, v. 1.

2. Enciclopédia Mirador Internacional, v. 4. Em 20.4.2020.

Blaise PASCAL

Certo dia, um menino de 10 anos bateu com uma colher num prato. Escutou atentamente o som, que continuou a vibrar por algum tempo. Parando, no entanto, quando o pequeno pôs a mão sobre o prato. Tantos outros garotos teriam feito o mesmo e observado o fenômeno. Mas, só um gênio como Blaise Pascal resolveu investigar o mistério. E escreveu um tratado sobre o som: Traité des sons...

Nascido aos 19 de junho de 1623, em Clermont (Auvergue), cedo demonstrou a sua genialidade. Certo dia, o pai o encontrou a riscar, com um pedaço de giz, rodas e barras no soalho do seu quarto. Rodas e barras eram na verdade os círculos e as linhas retas da Geometria, traduzidos na linguagem infantil.

Logo mais provaria que a soma dos ângulos de um triângulo perfaz dois retos, resolvendo num passatempo, o 32º teorema de Euclides, cujo nome ignorava.

Na adolescência, aos 16 anos, escreveu um Tratado sobre as secções dos cones - Traité des sections coniques, um problema de alta Geometria, que assombrou o mundo profissional da época. O próprio Descartes, ao lê-lo, se recusou a acreditar tivesse sido escrito por um jovem dessa idade.

Dois anos mais tarde, construiu o jovem matemático uma máquina de contar, com o principal objetivo de aliviar seu pai dos complicados cálculos que necessitava fazer na sua lida com as finanças do Município.

Numa época em que não estavam aperfeiçoadas as tábuas logarítmicas, este engenho prestou grandes serviços aos que se ocupavam com a aritmética e mereceu numerosas reproduções. Oportunamente, Pascal presenteou com uma dessas máquinas ao célebre Condé e a Rainha Cristina da Suécia, quando ela esteve na França. Mais tarde, entre seus 23 e 25 anos, interessou-se pelos estudos da Física, escrevendo sobre o espaço vazio: Nouvelles experiences touchant le vide.

Foi também nessa época que o pai de Blaise sofreu um acidente e, por permanecer longo período na cama, teve a lhe servir de enfermeiros dois fervorosos discípulos de Cornélio Jansênio que, ao se despedirem, deixando Etienne Pascal curado, deixaram toda a família Pascal profundamente impressionada com o ideal religioso.

Em outubro de 1654, estando Blaise Pascal a passear de carruagem por uma ponte, assustaram-se os cavalos, tendo dois deles se precipitado da ponte, após rompidos os arreios. Os outros, com a carruagem ficaram suspensos sobre o abismo, salvando a vida do cientista. Dizem alguns de seus biógrafos que este fato lhe teria produzido um violento abalo, fazendo-o se dedicar às questões religiosas.

Contudo, depois de sua morte, foi encontrado, cosido no forro de sua vestimenta, um bilhete datado de 23 a 24 de novembro de 1654, em que ele relata uma espécie de êxtase que teria experimentado, e demonstra um desejo ardente de se consagrar às coisas espirituais.

Escrevendo suas Cartas Provinciais, Pascal apresenta a verdadeira Igreja do Cristo não circunscrita a uma determinada organização eclesiástica, menos ainda a determinados homens de um certo período, representando casualmente a Igreja, mesmo porque, falíveis os homens, insegura seria a fé. Em 1657, suas Cartas, dezoito ao todo, foram relacionadas no Index da Igreja. São consideradas um dos maiores monumentos da literatura francesa e o atestado de uma grande sinceridade cristã.

A respeito, pronunciou-se Pascal: Roma condenou as minhas Cartas; mas o que nelas condenei está condenado no céu - apelo para o teu tribunal, Senhor Jesus! Relata que pediu a Deus 10 anos de saúde para poder escrever sua Apologia do Cristianismo, que o mundo viria a conhecer com o nome de Pensées, contudo, confessa, Deus lhe deu quatro anos de enfermidade. Nessa Apologia, ele apresenta Cristo não como o Senhor morto de tantos cristãos, mas o Cristo vivo, sempre vivo, aquele Cristo que segue com os homens, todos os dias.

Amar era para ele a melhor forma de crer, a razão do coração que a razão ignora. Deus é, antes de tudo, o Sumo Bem, o alvo do amor, e ele afirmava não poder crer senão num Deus que pudesse amar sinceramente. A mensagem para a Humanidade de sua época, para os melhores homens do século, foi uma mensagem de vasta, profunda e panorâmica espiritualidade cristã. Uma espiritualidade que brilha em todas as páginas do Evangelho, a espiritualidade do Cristo.

Tal espiritualidade transcende das suas mensagens, inseridas pelo Codificador em O Evangelho Segundo o Espiritismo: a primeira, datada de 1860, recebida em Genebra, que alude à verdadeira propriedade e a segunda, do ano 1862, de Sens, da qual destacamos especialmente: (...) Se os homens se amassem com mútuo amor, mais bem praticada seria a caridade;(...) e, logo adiante, (...) esforçai-vos por não atentar nos que vos olham com desdém e deixai a Deus o encargo de fazer toda a justiça, a Deus que todos os dias separa, no seu reino, o joio do trigo.

Não menos oportunas as observações em sua mensagem Sobre os médiuns (O Livro dos Médiuns, cap. XXXI, item XIII), de excelente atualidade para os dias que estamos vivendo, onde a mediunidade tem sido levada, muita vez, à conta de exclusiva projeção pessoal e destaque social: Que, dentre vós, o médium que não se sinta com forças para perseverar no ensino espírita, se abstenha; porquanto, não fazendo proveitosa a luz que ilumina, será menos escusável do que outro qualquer e terá que expiar a sua cegueira.

Sua morte se deu a 19 de agosto de 1662, aos 39 anos, sendo que os dois últimos anos de sua vida foram de intenso sofrimento. A enfermidade que o tomou lhe furtou qualquer possibilidade de esforços físicos e intelectuais.

Fontes:

1. Pascal/ Huberto Rohden. São Paulo, 1956.

2. Enciclopédia Mirador Internacional, v. 16.

3. O Evangelho Segundo o Espiritismo/Allan Kardec. FEB.

4.O livro dos médiuns/Allan Kardec. FEB.

Em 17.4.2020.

Christian Friedrich Samuel HAHNEMANN

Nasceu em 10 de abril de 1755, em Meissen, na Saxônia. Seus pais lhe deram o nome de Christian, seguidor de Cristo; Friedrich, protegido do rei; Samuel, Deus me escutou, em sinal de reconhecimento a Deus.

Seu pai era pintor de porcelana e ele mesmo foi preparado para seguir a carreira paterna. Dessa forma, aprendeu na Escola várias línguas estrangeiras: inglês, francês, espanhol, latim, árabe, grego, hebreu e caldeu, além da língua nacional. O objetivo era poder, no futuro, comercializar em outros países a porcelana.

Mas o seu destino seria outro. Foi estudar Medicina em Leipzig e Viena. Por ser pobre, sustentava-se fazendo traduções, e assim entrou em contato com obras sobre doutrinas existenciais.

Em 1812, era docente da Universidade de Leipzig. Contudo, na carreira médica se mostrava inquieto por não conseguir bons resultados na cura dos enfermos que tratava. Seus amigos diziam que ele sonhava, que tudo que almejava era utopia. O homem é limitado mesmo, limitados também seus conhecimentos.

Finalmente, aos 36 anos, após a morte de um amigo de quem cuidava clinicamente, resolve abandonar a Medicina.

Adentra o seu consultório e avisa a seus pacientes que não mais os atenderá. Se os não pode curar, de que vale a sua Ciência! E despede a todos.

Está profundamente desanimado. Para sobreviver e sustentar a família, trabalha em traduções, mais especialmente na área da Química e da Farmacologia.

Fazendo a tradução de uma obra de um médico escocês William Cullen, no ano de 1790, surpreende-se com a descrição das propriedades do quinino. Chama-lhe a atenção, em especial, o fato de que a intoxicação pelo quinino tinha sintomas semelhantes aos da enfermidade natural da febre intermitente.

Ele próprio passou a ingerir doses de quinino, comprovando que os resultados eram semelhantes à febre combatida por aquele produto.

Repetiu a experiência com outras drogas, como o mercúrio, a beladona, a digital, sempre no homem sadio, concluindo por elaborar a doutrina homeopática, resumida na expressão: similia similibus curantur, ou seja, sintomas semelhantes são curados por remédios semelhantes.

Já no ano de 1796, suas observações foram divulgadas. Observações que passariam a compor sua mais importante obra: O Organon, publicado em 1810, onde explica seu sistema e cria a Homeopatia. Depois, publicaria Ciência Médica Pura e Teoria e tratamento homeopático das doenças crônicas.

Nos princípios homeopáticos estabelece-se que toda substância que, em dose ponderável, é capaz de provocar no indivíduo são um quadro sintomático, também tem capacidade de o fazer desaparecer, com administração em pequenas doses. Também, que a preparação dos medicamentos requer diluições infinitesimais, pois que elas teriam a capacidade de desenvolver as virtudes medicinais dinâmicas das substâncias grosseiras.

Desde os primeiros momentos, Hahnemann sofreu acirrada campanha contrária ao que expunha, em especial dos farmacêuticos, pelo que muito padeceu.

Somente em 1835, já com seus 80 anos, viúvo, foi procurado por uma jovem que o buscou em sua cidade como último recurso médico e foi por ele curada. Eles se consorciam e ela o leva para Paris, onde finalmente obtém geral reconhecimento.

Foi em Paris que ele desencarnou, em 2 de julho de 1843, 14 anos antes de vir a lume O Livro dos Espíritos e nascer, portanto, a Doutrina Espírita.

Compondo a equipe espiritual responsável pela Codificação, deu seu contributo particularmente em O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. IX, Bem-aventurados os que são brandos e pacíficos, onde assina a mensagem do item 10, tratando das virtudes e dos vícios que são inerentes ao Espírito. A mensagem foi dada em Paris, no ano de 1863.

À guisa de curiosidade somente, no mesmo ano, a 13 de março, na Sociedade Espírita de Paris, tendo como médium a sra. Costel, Hahnemann dissertou a respeito do estado da Ciência à época, em resposta a um médico homeopata estrangeiro, presente à sessão. Dita dissertação se encontra no volume sexto da Revista Espírita.

Fonte:

1. Enciclopédia Mirador Internacional, v. 11.

Em 17.4.2020.

DELPHINE de GIRARDIN

Foi poetisa que frequentou os salões de Mme. Récamier. Delphine Gay nasceu em Aix-La-Chapelle, no dia 26 de janeiro de 1804. E desencarnou na capital francesa em 29 de junho de 1855. Casou-se com Émile de Girardin, jornalista e político francês, passando então a ser conhecida como a sra. Émile de Girardin.

Ela mesma se tornou jornalista, após o casamento em 1831, escrevendo no jornal La Presse no período de 1836 a 1848, sob o pseudônimo de Visconde de Launay, interessantes crônicas da sociedade do tempo de Luís Filipe. Essas crônicas ficaram conhecidas como Cartas Parisienses. Publicou também romances, tragédias e comédias. Era, positivamente, grande médium inspirada.

Personalidade muito conhecida no meio poético, frequentando os salões literários onde se reuniam as celebridades do momento, muito natural que ela tomasse contato com as mesas girantes. 

Desde o primeiro contato com as mesas ela se convenceu da veracidade das manifestações. Teve oportunidade de se encontrar com o professor Rivail pessoalmente. Possivelmente, em alguma das reuniões que ele frequentava, nas suas pesquisas em torno dos fenômenos que assombravam Paris.

Amiga pessoal de Victor Hugo, os acontecimentos políticos do ano de 1851 e o exílio de seus amigos marcaram-na de forma cruel. Fiel à amizade, ela decidiu levar conforto moral aos pobres proscritos. Lançou-se ao mar e em 6 de setembro de 1853 desembarcou em Jersey, uma pequena ilha de 116 quilômetros quadrados.

O cansaço a tomava por inteiro. A viagem foi excessivamente fatigante. Diga-se de passagem: ela já se encontrava doente. O câncer a devorava. Dinâmica, contudo, ela não se deixava abater em demasia. Um pouco triste e melancólica, mas igualmente feliz por rever seus amigos, ela reencontrou Victor Hugo e a família.

À hora do jantar, narrou as notícias de Paris, no intuito de trazer um pouco da Pátria para os exilados. Com entusiasmo, referiu-se às mesas girantes. Na pequena ilha de Jersey algumas tentativas tinham sido feitas, sem sucesso.

Delphine, sem aguardar a sobremesa, saiu em busca de uma mesa pequena, redonda. As sessões foram longas e cansativas. E, ao que parece, sem sucesso nos primeiros cinco dias.

Victor Hugo, cético, aderiu às reuniões somente para não desgostar a amiga. Finalmente, no domingo, 11 de setembro, a concentração e o silêncio foram recompensados. Uma comunicação aconteceu. Uma comunicação que mudaria os rumos da vida do grande poeta francês. Quem se comunicou, através da mesa, foi nada mais, nada menos que sua filha Léopoldine. Sua amada filha, morta durante a lua de mel, afogada em um lago, num passeio de barco com o marido.

Em O Evangelho Segundo o Espiritismo Delphine de Girardin, Espírito, assina a mensagem A desgraça real, no capítulo V (Bem-aventurados os aflitos), item 24.

1. Victor Hugo et le spiritisme de Jean de Mutigny.

2. Enciclopédia Mirador Internacional, v. 11.

Em 16.4.2020.

Dominique François Jean ARAGO

O físico, astrônomo e matemático deixou sua mensagem na quinta obra da Codificação. No livro "A Gênese", item 8 do capítulo 18, Sinais dos tempos.

De família de profundas convicções republicanas. Nasceu em 26 de fevereiro de 1786, em Estagel, França, perto de Perpignan, tendo ali dado início aos seus estudos. Tal mente brilhante logo se transferiria para a Escola Politécnica de Paris.

Aos 19 anos, foi nomeado Secretário do Observatório de Paris (construído em 1667, pelo arquiteto Claude Perrault, e que é considerado o mais antigo Observatório em atividade, no mundo) e mais tarde seu Diretor. Aos 23 anos, era Professor de Geometria Analítica na Escola Politécnica de Paris e até a idade de 44 anos dedicou-se exclusivamente à Ciência.

Com Biot (Jean-Baptiste, físico e astrônomo francês, nascido em Paris), completou a medida de um arco do meridiano terrestre. Confirmou, de forma experimental, a teoria ondulatória da luz. Descobriu (1820) os fenômenos relativos ao magnetismo rotatório, demonstrando a relação entre as auroras boreais e as variações magnéticas.

Descobriu, junto com Fresnel (Augustin-Jean, físico e engenheiro francês, nascido em Broglie), a polarização cromática da luz, a polarização rotatória e as leis sobre a interferência da luz polarizada.

Suas obras completas, em 13 volumes, foram publicadas após a sua morte, no período de 1854 a 1862. É considerado um grande encorajador dos jovens para a Ciência, tendo sido defensor da reforma do ensino, da liberdade de imprensa e das ciências aplicadas.

Consta que, no ano de 1825, ele foi ganhador da Medalha de Copley  (Monsieur Geoffrey Copley) da Sociedade Real de Londres, considerada a recompensa maior ofertada por aquela Sociedade à descoberta ou trabalho científico de grande importância ou contribuição para a Ciência.

Casou-se aos 25 anos e foi pai por três vezes.

Politicamente, foi ativo pela causa republicana, desempenhando cargos políticos no governo. Já em 1830, foi eleito deputado pelo Departamento dos Pirineus Orientais e mais tarde por Paris.

Foi Ministro da Marinha e depois Ministro da Guerra, no Governo temporário que tomou o poder após a Revolução de 1848, tendo apresentado inúmeras reformas. Na qualidade de Ministro, promulgou o decreto de abolição da escravatura nas colônias francesas.

A França lhe dedicou um selo, nominando-o como físico e político. Desencarnado em 2 de outubro de 1853, em Paris, tem seu corpo depositado no Cemitério de Père-Lachaise, na capital francesa.

Quem batalhou pela Ciência e pela melhor ordem social, bem se revela nas letras que o Codificador inseriu em A Gênese: A efervescência que por vezes se manifesta em toda uma população, entre os homens de uma mesma raça, não é coisa fortuita, nem resultado de um capricho; tem sua causa nas leis da Natureza. Essa efervescência, inconsciente a princípio, não passando de vago desejo, de aspiração indefinida por alguma coisa melhor, de certa necessidade de  mudança, traduz-se por uma surda agitação, depois por atos que levam às revoluções sociais, que, acreditai-o, também têm sua periodicidade, como as revoluções físicas, pois que tudo se encadeia.

Na Espiritualidade, com a visão mais abrangente, ainda conclui: Quando se vos diz que a Humanidade chegou a um período de transformação e que a Terra tem que se elevar na hierarquia dos mundos, nada de místico vejais nessas palavras; vede, ao contrário, a execução de uma das grandes leis fatais do Universo, contra as quais se quebra toda a má vontade humana.

Fontes de consulta:

1. Enciclopédia Mirador Internacional, v. 3.

2. http://www.astrogea.org/asteroides/varis/arago/index_c.html

3. http://es.geocities.com/fisicas/cientificos/fisicos/arago.htm

4. http://www-history.mcs.st-andrews.ac.uk/history/Mathematicians/Arago.html

Emanuel Von SWEDENBORG

Considerado, segundo Arthur Conan Doyle, como a maior e mais alta inteligência humana. Nasceu em Estocolmo em 29 de janeiro de 1688. Filho de um bispo da Igreja luterana sueca. Profundo estudioso da Bíblia, viveu na austera atmosfera evangélica alguns anos de sua vida.

Estudou em Uppsala e visitou a Alemanha, a França, a Holanda e a Inglaterra, a fim de ampliar seus extensos conhecimentos de Matemática, Mecânica, Astronomia, Geologia, Mineralogia.

Aos 22 anos publicou um volume de versos latinos e aos 28 foi nomeado assessor de minas do governo sueco. Versátil, tanto quanto Leonardo da Vinci, criou engenhos mecânicos para transportar barcos por terra, analisou a economia da moeda corrente, a produção e o custo do álcool, a aplicação do sistema decimal, a relação entre importações e exportações e a economia nacional.

Próximo aos 30 anos, voltou-se para a Paleontologia, a Geologia, o estudo dos fósseis e chegou a desenvolver uma avançada teoria sobre a expansão nebular, para explicar a origem do sistema solar. Dedicou-se também aos estudos da Medicina e da Fisiologia. Era hábil em latim, grego, inglês, além de sua língua pátria, e chegou a estudar hebraico, a fim de empreender uma reinterpretação do Velho e do Novo Testamento.

A primeira parte de sua vida foi notadamente voltada para o intelecto. Contudo, embora ainda menino tivesse visões, foi em abril de 1744 que se iniciou uma nova etapa, a da investigação em busca de conhecimentos sobre a alma humana relacionada com Deus e o Universo numa estrutura da ideia cristã.

Conforme suas palavras, ...o mundo dos Espíritos, do céu e do inferno, abriu-se convincentemente para mim, e aí encontrei muitas pessoas de meu conhecimento e de todas as condições. Desde então diariamente o Senhor abria os olhos de meu Espírito para ver, perfeitamente desperto, o que se passava no outro mundo e para conversar, em plena consciência, com anjos e Espíritos.

Considerado como um dos precursores das ideias espíritas, em suas obras Céu e Inferno, A nova Jerusalém e Arcana Caelestia descreveu o processo da morte e o mundo do além, detalhando sua estrutura. Falou de casas onde viviam famílias, templos onde praticavam o culto, auditórios onde se reuniam para fins sociais. Descreveu várias esferas, representando os graus de luminosidade e de felicidade dos Espíritos. Afirmou não existirem anjos e demônios, mas simplesmente seres humanos, saídos da carne e em estado retardatário, ou altamente desenvolvidos. Descartou a possibilidade da existência de penas eternas.

A afirmação de contatos com os Espíritos e suas experiências psíquicas, inclusive de dupla vista, atraíram amigos e lhe conquistaram adversários. Suas visões à distância foram detalhadamente investigadas, como a ocorrida no dia 19 de julho de 1759, na cidade de Göteborg, a 480 km da capital sueca. Naquela tarde, Swedenborg jantou com a família de William Castell, juntamente com mais umas quinze pessoas, e descreveu, pálido e alarmado, o incêndio que irrompera às três horas daquela tarde e foi dominado às oito horas da noite, a uma distância de três portas de sua própria casa. Esse dia era um sábado e somente na terça-feira uma mensagem real confirmou os fatos, inclusive o detalhe de ter sido dominado às oito horas da noite.

Esse homem notável, enérgico quando rapaz e amável na velhice, era bondoso e sereno. Prático, trabalhador, era de estatura alta, delgado, de olhos azuis, apresentando-se sempre impecável com sua peruca até os ombros, roupas escuras, calções curtos, fivelas nos sapatos e bengala.

Desencarnando em 29 de março de 1772, em Londres, cidade onde viveu muitos anos e onde se deu a eclosão da sua mediunidade, apresentar-se-ia 72 anos mais tarde, numa tarde de março de 1844, a um jovem de nome Andrew Jackson Davis, como um de seus mentores, junto ao Espírito Galeno, passando a assessorá-lo em sua jornada mediúnica.

Na Codificação, seu nome figura em Prolegômenos, atestando a sua participação efetiva, como membro da equipe do Espírito de Verdade, contribuindo para a instalação da Terceira Revelação junto aos homens.

Fontes:

1.História do espiritismo/Arthur Conan Doyle, cap. I e III.

2. Eles conheceram o desconhecido/Martin Ebon, cap. I.

3. Enciclopédia Mirador Internacional, v. 19.

Em 20.4.2020.

EMMANUEL

Seu nome se encontra grafado com dois "m" no original francês L’Évangile Selon le Spiritisme. Sua mensagem é datada de Paris, em 1861, e inserida no cap. XI, item 11, do Evangelho Segundo o Espiritismo, intitulada "O egoísmo". Ficou mais conhecido pela psicografia do médium mineiro Francisco Cândido Xavier.

Segundo ele, foi no ano de 1931 que, pela primeira vez, numa das reuniões habituais do Centro Espírita, se fez presente o bondoso Espírito Emmanuel.

Descreve Chico: Via-lhe os traços fisionômicos de homem idoso, sentindo minha alma envolvida na suavidade de sua presença, mas o que mais me impressionava era que a generosa entidade se fazia visível para mim, dentro de reflexos luminosos que tinham a forma de uma cruz.

Convidado a se identificar, apresentou alguns traços de suas vidas anteriores, dizendo ter sido senador romano, descendente da orgulhosa gens Cornelia e, também, sacerdote, tendo vivido inclusive no Brasil.

ERASTO

Suas comunicações traziam sempre incontestáveis profundeza e lógica, como disse o próprio Codificador. Encontramos duas personalidades, em momentos diferentes da História da Humanidade. A primeira é afirmada pelo próprio Codificador Allan Kardec, de que ele seria discípulo de Paulo de Tarso (O Livro dos Médiuns, cap. V, item 98). 

A afirmativa tem procedência. Na segunda epístola a Timóteo, escrita quando prisioneiro em Roma, relata o Apóstolo dos Gentios: Erasto ficou preso em Corinto. (IV, 20)

Segundo consta na epístola aos Romanos, na saudação final, esse mesmo Erasto tinha cargo na cidade, pois se encontra no cap. 16, vers. 23: Saúda-vos Erasto, tesoureiro da cidade.

Em Atos dos Apóstolos (XIX, 22) lemos que Paulo enviou à Macedônia ...dois dos que lhe assistiam, Timóteo e Erasto..., enquanto ele próprio, Paulo, permaneceu na Ásia. Interessante observar a proximidade dos dois discípulos de Paulo, pois em O Livro dos Médiuns, cap. XIX, encontramos longa mensagem assinada por ambos, a respeito do papel do médium nas comunicações (item 225). Juntos no século I da era cristã, juntos na tarefa da Codificação.

Ainda em O Livro dos Médiuns são de sua lavra os itens 98, cap. V, algumas respostas a perguntas constantes no item 99, itens 196 e 197 do cap. XVI, itens 230 do cap. XX, onde se encontra a célebre frase: Melhor é repelir dez verdades do que admitir uma única falsidade, uma só teoria errônea. Finalmente, na comunicação de nº XXVII.

Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, há várias mensagens assinadas por Erasto. A primeira se encontra no cap. I, item 11, a segunda no cap. XX, item 4, e se intitula: Missão dos espíritas, trazendo a assinatura de Erasto, anjo da guarda do médium, aditando oportunamente o Codificador de que o médium seria o sr. d’Ambel.

As demais compõem os itens 9 (Caracteres do verdadeiro profeta) e 10 (Os falsos profetas da erraticidade), ambas datadas de 1862, sendo que na última é o próprio Espírito que se identifica como discípulo de São Paulo, o que igualmente faz no cap. I, item 11 de O Evangelho Segundo o Espiritismo e cap. XXXI, nº XXVII de O Livro dos Médiuns.

A outra referência a esse Espírito se encontra na Revista Espírita, ano de 1869, da EDICEL, no índice Biobibliográfico, onde é apresentado como tendo sido Thomaz Liber, dito Erasto, médico, filósofo e teólogo alemão, nascido em 1524 e morrido em 1583. Foi professor de Medicina em Heidelberg e de Moral, em Basileia.

No campo da Teologia, combateu o poder temporal da Igreja e se opôs à disciplina calvinista e à ordem presbiteriana. Sua posição lhe valeu uma excomunhão, sob suspeita de heresia, sendo reabilitado algum tempo depois.

Suas teorias tiveram muitos partidários, sobretudo na Inglaterra. Legou somas consideráveis aos estudantes pobres, sendo especialmente respeitado por seus gestos de benemerência.

De qualquer forma, o que resta incontestável, segundo Kardec, é que ...era um Espírito superior, que se revelou mediante comunicações de ordem elevadíssima... (O Livro dos Médiuns, cap. XIX, item 225)

O que importa realmente é a tarefa desenvolvida à época de Paulo de Tarso, encarnado e ao tempo de Kardec, desencarnado.

Encarnado, o seu grande trabalho pela divulgação das ideias nascentes do Cristianismo, em um ambiente quase sempre hostil. Desencarnado, ombreando com tantas outras entidades espirituais, apresentando elucidações precisas em favor da Codificação da Doutrina Espírita, respondendo a questões de vital importância para uma também doutrina nascente, a Terceira Revelação, o Consolador prometido por Jesus.

Fontes de consulta:

1.Revista Reformador, outubro 1993, FEB. Um Espírito chamado Erasto

2. Atos dos Apóstolos, XIX, 22.

3. Epístola aos Romanos, XVI, 23.

4. II Epístola a Timóteo, IV, 20.

5. Revista Espírita,1869, EDICEL. Índice Biobibliográfico

Em 16.4.2020

Félicité Robert de LAMENNAIS

Nascido em uma família burguesa, em 19 de junho de 1782, em Saint-Malo, na França. Foi brilhante escritor, tornando-se uma figura influente e controversa na História da Igreja francesa. Com seu irmão Jean, concebeu a ideia de reviver o Catolicismo Romano como uma chave para a regeneração social. Chegaram a esboçar um programa de reforma em sua obra: Reflexões do estado da Igreja, no ano de 1808.

Cinco anos mais tarde, no auge do conflito entre Napoleão e o Papado, os irmãos produziram uma defesa do Ultramontanismo (Doutrina e política dos católicos franceses que buscavam inspiração na Cúria Romana, defendendo a autoridade absoluta do Papa em matéria de fé e disciplina). Esse livro valeu a Lamennais um conflito com o Imperador, ocasionando sua fuga para a Inglaterra, rapidamente, no ano de 1815.

Um ano depois, com seus 34 anos de idade, Lamennais retorna a Paris e é ordenado padre. Escritor fluente, político e filósofo, ele se esforçava para combinar a política liberal com o Catolicismo Romano, depois da Revolução Francesa. Por isso, já em 1817 publicou Ensaios sobre a indiferença em matéria de religião considerada em suas relações com a ordem política e civil, além de uma tradução da Imitação de Jesus Cristo. O livro Ensaios lhe valeu fama imediata.

Nele, Lamennais argumentava a respeito da necessidade da religião, baseando seus apelos na autoridade da tradição e a razão geral da Humanidade, em vez de o individualismo do julgamento privado. Embora advogasse o Ultramontanismo na esfera religiosa, em suas crenças políticas era um liberal que advogava a separação do Estado da Igreja, a liberdade de consciência, educação e imprensa.

Depois da revolução de julho, em 1830, Lamennais, junto com Henri Lacordaire (outro expoente da Codificação) e Charles de Montalembert, além de um grupo entusiástico de escritores do Catolicismo Romano Liberal, fundou o jornal L’Avenir. Nesse jornal diário, defendia Lamennais os princípios democráticos, a separação da Igreja do Estado, criando embaraços para si tanto com a hierarquia eclesiástica francesa quanto com o governo do rei Luís Felipe.

O Papa Gregório XVI desautorizou as opiniões de Lamennais na Encíclica Mirari Vos, em agosto de 1831. A partir de então, Lamennais passa a atacar o Papado e as monarquias europeias, escrevendo o famoso poema Palavras de um crente, condenado na Encíclica Papal Singulari Vos, em julho de 1834. O resultado foi a exclusão de Lamennais da Igreja.

Incansável, ele se devotou à causa do povo, colocando sua caneta a serviço do republicanismo e do socialismo. Escreveu trabalhos como O Livro do Povo (1838), Os afazeres de Roma e Esboço de uma Filosofia. Chegou a ser condenado à prisão mas, já em 1848, foi eleito para a Assembleia Nacional, aposentando-se em 1851.

Por ocasião de sua morte, em Paris, em 27 de fevereiro de 1854, não desejando se reconciliar com a Igreja, foi sepultado em uma cova de indigentes.

No Mundo Espiritual, não permaneceu ocioso, eis que em O Livro dos Espíritos, na pergunta de número 1009, encontra-se uma mensagem de sua lavra, ilustrando a resposta. Nela, revela os traços da sua fé, concitando as criaturas a aproximar-se do Bom Pastor e do Pai Criador, combatendo com vigor a crença das penas eternas.

Na mensagem que assina em O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XI, item 15, ele se revela o ser compassivo, que conclama as criaturas a obedecer a voz do coração, oferecendo, se for necessário, a própria pela vida de um malfeitor.

Em 17.4.2020.

François de Salignac de la Mothe - FÉNELON

Eclesiástico e escritor francês que nasceu no Castelo de Fénelon, em Périgord, em 6 de agosto de 1651. Ordenou-se sacerdote em 1675 e passou a dirigir uma instituição que tinha por objetivo reeducar as jovens protestantes convertidas ao catolicismo.

Foi enviado pelo rei, na qualidade de missionário, às regiões de Aunis e Saintonge.

Seu Tratado da educação das jovens, que veio à luz em 1687, obra dedicada às filhas do duque de Beauvillier, lhe valeu a nomeação de preceptor do duque de Bourgogne.

Aos 42 anos é eleito acadêmico e aos 44 já é arcebispo de Cambrai.

A partir da publicação de sua obra Explicação das máximas dos santos, em 1697, passam a declinar as graças oficiais. Dois anos mais tarde, a Santa Sé condena a obra e ele é privado de seus títulos e pensões.

Também cai em desgraça perante Luís XIV que descobre críticas ao seu governo no romance pedagógico de Fénelon As aventuras de Telêmaco, no mesmo ano de 1699.

Mesmo no exílio de sua diocese, ele não para de publicar. E no período de 1700 a 1712 publica Fábulas e Diálogos dos mortos, este último escrito para o duque de Bourgogne.

Deixa transparecer suas esperanças de uma reforma política em O exame de consciência de um rei, enquanto seu apego à Antiguidade clássica transparece em Cartas sobre as ocupações da Academia francesa.

7 de janeiro de 1715 assinala a data da sua morte, ocorrida em Cambrai.

Fénelon figura na Codificação, em vários momentos, podendo ser citados: O Livro dos Espíritos, onde assina Prolegômenos, junto a uma plêiade de luminares espirituais. Igualmente a resposta à questão de nº 917 é de sua especial responsabilidade.

Em O Evangelho Segundo o Espiritismo apresenta-se discursando acerca da Terceira Revelação e da revolução moral do homem (cap. I, item 10); O homem de bem e Os tormentos voluntários (cap. V, itens 22 e 23); A lei de amor (cap. XI, item 9); O ódio (cap. XII, item 10) e Emprego da riqueza (cap. 16,  item 13).

Em O Livro dos Médiuns figura no capítulo das Dissertações Espíritas (cap. XXXI, 2ª parte, itens XXI e XXII) desenvolvendo aspectos acerca de reuniões espíritas e a multiplicidade dos grupos espíritas.

Importante assinalar que os destaques são aqueles em que o Espírito assina seu nome, devendo se considerar que deve, como os demais responsáveis espirituais pela Codificação, ter estado presente em muitos outros momentos, dando seu especial contributo, eis que foi convidado pelo Espírito de Verdade a compor Sua equipe, em tão grandioso empreendimento.

Fonte:

1. Enciclopédia Mirador Internacional, v. 10.

FRANCISCO XAVIER

Francisco de Jassu y Javier nasceu em 7 de abril de 1506, no Castelo dos Javier, perto de Pamplona, na Espanha. Aos 19 anos foi a Paris para estudar, ali permanecendo até seus 28 anos. Com Inácio de Loyola e mais cinco seguidores, fez o voto de caridade e pobreza, no dia 15 de agosto de 1534, do qual se originou a fundação da Companhia de Jesus.

Sendo ordenado padre 3 anos mais tarde, ao contrário de Inácio de Loyola, que permaneceu na Europa, foi enviado ao Extremo Oriente. A serviço da monarquia portuguesa fez de Goa, na Índia, o centro de difusão do seu apostolado. Sua obra rendeu frutos no Ceilão, nas ilhas do Sudeste da Ásia e no Japão.

Quando viajava para iniciar uma nova etapa missionária na China, morreu nas costas do país, aos 46 anos de idade, a 3 de dezembro de 1552, sem poder desembarcar no continente.

Ficou conhecido como o Apóstolo da Índia. O valor desse jesuíta está em sua atitude pioneira de apostolado junto aos povos asiáticos. Os jesuítas detêm o mérito de terem sido, nas colônias de Espanha e Portugal, o único centro de cultura e um exemplo missionário nos séculos XVI e XVII.

É no capítulo Amai os vossos inimigos, em O Evangelho Segundo o Espiritismo que Francisco Xavier disserta a respeito do duelo, afirmando que: Quando a caridade regular a conduta dos homens, eles conformarão seus atos e palavras a esta máxima: “Não façais aos outros o que não quiserdes que vos façam”.

Da sua desencarnação à mensagem, ditada em Bordeaux, em 1861, estabelece-se um período de 309 anos.

Joanna de Ângelis

Famosa mentora que trouxe, por intermédio de Divaldo Pereira Franco, importantes obras com enfoque no autoconhecimento e descobrimento do ser, é um espírito que irradia ternura e sabedoria, e que, nas estradas dos séculos, vamos encontrar em diversas reencarnações missionárias.

Por exemplo, a mansa figura de Joana De Cusa; em uma discípula de Francisco de Assis; na grandiosa Sóror Juana Inês De La Cruz e na destemida Joana Angélica De Jesus. Conheça agora cada um deste personagens que marcaram a história com o seu exemplo de humildade e heroísmo.

JOANA DE CUSA

Joana de Cusa, segundo informações de Humberto de Campos, no livro "Boa Nova", era alguém que possuía verdadeira fé. Narra o autor que: "Entre a multidão que invariavelmente acompanhava JESUS nas pregações do lago, achava-se sempre uma mulher de rara dedicação e nobre caráter, das mais altamente colocadas na sociedade de Cafarnaum. Tratava-se de Joana, consorte de Cusa, intendente de Ântipas, na cidade onde se conjugavam interesses vitais de comerciantes e de pescadores".

O seu esposo, alto funcionário de Herodes, não lhe compartilhava os anseios de espiritualidade, não tolerando a doutrina daquele Mestre que Joana seguia com acendrado amor. Vergada ao peso das injunções domésticas, angustiada pela incompreensão e intolerância do esposo, buscou ouvir a palavra de conforto de JESUS que, ao invés de convidá-la a engrossar as fileiras dos que O seguiam pelas ruas e estradas da Galileia, aconselhou-a a segui-lo a distância, servindo-o dentro do próprio lar, tornando-se um verdadeiro exemplo de pessoa cristã, no atendimento ao próximo mais próximo: seu esposo, a quem deveria servir com amorosa dedicação, sendo fiel a Deus, amando o companheiro do mundo como se fora seu filho. JESUS traçou-lhe um roteiro de conduta que lhe facultou viver com resignação o resto de sua vida. Mais tarde, tornou-se mãe.

Com o passar do tempo, as atribuições se foram avolumando. O esposo, após uma vida tumultuada e inditosa, faleceu, deixando Joana sem recursos e com o filho para criar. Corajosa, buscou trabalhar. Esquecendo "o conforto da nobreza material, dedicou-se aos filhos de outras mães, ocupou-se com os mais subalternos afazeres domésticos, para que seu filhinho tivesse pão". Trabalhou até a velhice. Já idosa, com os cabelos embranquecidos, foi levada ao circo dos martírios, juntamente com o filho moço, para testemunhar o amor por JESUS, o Mestre que havia iluminado a sua vida acenando-lhe com esperanças de um amanhã feliz. Narra Humberto de Campos, no livro citado:

"Ante o vozerio do povo, foram ordenadas as primeiras flagelações. - Abjura!... - exclama um executor das ordens imperiais, de olhar cruel e sombrio. A antiga discípula do Senhor contempla o céu, sem uma palavra de negação ou de queixa. Então o açoite vibra sobre o rapaz seminu, que exclama, entre lágrimas: - 'Repudia a JESUS, minha mãe!... Não vês que nós perdemos?! Abjura!... por mim, que sou teu filho!...'

"Pela primeira vez, dos olhos da mártir corre a fonte abundante das lágrimas. As rogativas do filho são espadas de angustia que lhe retalham o coração. Após recordar sua existência inteira, responde:

"- Cala-te, meu filho! JESUS era puro e não desdenhou o sacrifício. Saibamos sofrer na hora dolorosa, porque, acima de todas as felicidades transitórias do mundo, é preciso ser fiel a DEUS!"

Logo em seguida, as labaredas consomem o seu corpo envelhecido, libertando-a para a companhia do seu Mestre, a quem tão bem soube servir e com quem aprendeu a sublimar o amor.

UMA DISCÍPULA DE FRANCISCO DE ASSIS

Séculos depois, Francisco de Assis, o "Pobrezinho de Deus", o "Sol de Assis", reorganiza o "Exército de Amor do Rei Galileu". Ela também se candidata a viver com ele a simplicidade do Evangelho de Jesus, que a tudo ama e compreende, entoando a canção da fraternidade universal.

SÓROR JUANA INÉS DE LA CRUZ

No século XVII, ela reaparece no cenário do mundo, para mais uma vida dedicada ao Bem. Renasce em 1651 na pequenina San Miguel Nepantla, a cerca de oitenta quilômetros da cidade do México, com o nome de Juana de Asbaje Y Ramirez de Santillana, filha de pai basco e mãe indígena.

Após 3 anos de idade, fascinada pelas letras, ao ver sua irmã aprender a ler e escrever, engana a professora e diz-lhe que sua mãe mandara pedir-lhe que a alfabetizasse. A mestra, acostumada com a precocidade da criança, que já respondia às perguntas que a irmã ignorava, passa a ensinar-lhe as primeiras letras. Começou a fazer versos aos 5 anos.

Aos 6 anos, Juana dominava perfeitamente o idioma pátrio, além de possuir habilidades para costura e outros afazeres comuns às mulheres da época. Soube que existia no México uma Universidade e empolgou-se com a ideia de, no futuro, poder aprender mais e mais entre os doutores. Em conversa com o pai, confidenciou suas perspectivas para o futuro. Dom Manuel, como um bom espanhol, riu-se e disse gracejando:

- "Só se você se vestir de homem, porque lá só os rapazes ricos podem estudar."

Juana ficou surpresa com a novidade, e logo correu à sua mãe solicitando insistentemente que a vestisse de homem desde já, pois não queria, em hipótese alguma, ficar fora da Universidade.

Na Capital, aos 12 anos, Juana aprendeu latim em 20 aulas, e português, sozinha. Além disso, falava nahuatl, uma língua indígena. O Marquês de Mancera, querendo criar uma corte brilhante, na tradição europeia, convidou a menina prodígio de 13 anos para dama de companhia de sua mulher.

Na Corte encantou a todos com sua beleza, inteligência e graciosidade, tornando-se conhecida e admirada pelas suas poesias, seus ensaios e peças bem-humoradas. Um dia, o Vice-Rei resolveu testar os conhecimentos da vivaz menina e reuniu 40 especialistas da Universidade do México para interrogá-la sobre os mais diversos assuntos. A plateia assistiu, pasmada, àquela jovem de 15 anos responder, durante horas, ao bombardeio das perguntas dos professores. E tanto a plateia como os próprios especialistas aplaudiram-na, ao final, ficando satisfeito o Vice-Rei.

Mas, a sua sede de saber era mais forte que a ilusão de prosseguir brilhando na Corte. A fim de se dedicar mais aos seus estudos e penetrar com profundidade no seu mundo interior, numa busca incessante de união com o divino, ansiosa por compreender Deus através de sua criação, resolveu ingressar no Convento das Carmelitas Descalças, aos 16 anos de idade. Desacostumada com a rigidez ascética, adoeceu e retornou à Corte. Seguindo orientação de seu confessor, foi para a ordem de São Jerônimo da Conceição, que tem menos obrigações religiosas, podendo dedicar-se às letras e à ciência. Tomou o nome de Sóror Juana Inés De La Cruz.

Na sua confortável cela, cercada por inúmeros livros, globos terrestres, instrumentos musicais e científicos, Juana estudava, escrevia seus poemas, ensaios, dramas, peças religiosas, cantos de Natal e música sacra. Era frequentemente visitada por intelectuais europeus e do Novo Mundo, intercambiando conhecimentos e experiências.

A linda monja era conhecida e admirada por todos, sendo os seus escritos popularizados não só entre os religiosos, como também entre os estudantes e mestres das Universidades de vários lugares. Era conhecida como a "Monja da Biblioteca". Se imortalizou também por defender o direito da mulher de ser inteligente, capaz de lecionar e pregar livremente.

Em 1695, houve uma epidemia de peste na região. Juana socorreu durante o dia e a noite as suas irmãs religiosas que, juntamente com a maioria da população, estavam enfermas. Foram morrendo, aos poucos, uma a uma das suas assistidas e, quando não restava mais religiosas, ela, abatida e doente, tombou vencida, aos 44 anos de idade.

SÓROR JOANA ANGÉLICA DE JESUS

Passados 66 anos do seu regresso à Pátria Espiritual, retornou, agora na cidade de Salvador na Bahia, em 1761, como Joana Angélica, filha de uma abastada família. Aos 21 anos de idade ingressou no Convento da Lapa, como franciscana, com o nome de Sóror Joana Angélica De Jesus, fazendo profissão de Irmã das Religiosas Reformadas de Nossa Senhora da Conceição. Foi irmã, escrivã e vigária, quando, em 1815, tornou-se Abadessa e, no dia 20 de fevereiro de 1822, defendendo corajosamente o Convento, a casa do Cristo, assim como a honra das jovens que ali moravam, foi assassinada por soldados que lutavam contra a Independência do Brasil.

Nos planos divinos, já havia uma programação para esta sua vida no Brasil, desde antes, quando reencarnara no México como Sóror Juana Inês de La Cruz. Daí, sua facilidade estrema para aprender português. É que, nas terras brasileiras, estavam reencarnados, e reencarnariam brevemente, Espíritos ligados a ela, almas comprometidas com a Lei Divina, que faziam parte de sua família espiritual e aos quais desejava auxiliar.

Dentre esses afeiçoados a Joanna de Ângelis, destacamos Amélia Rodrigues, educadora, poetisa, romancista, dramaturga, oradora e contista que viveu no fim do século passado ao início deste.

JOANNA NA ESPIRITUALIDADE

Quando, na metade do século XIX, "as potências do Céu" se abalaram, e um movimento de renovação se alastrou pela América e pala Europa, fazendo soar aos "quatro cantos" a canção da esperança com a revelação da vida imortal, Joanna de Ângelis integrou a equipe do Espírito de Verdade, para o trabalho de implantação do Cristianismo redivivo, do Consolador prometido por Jesus. E ela, no livro "Após a Tempestade", em sua última mensagem, referindo-se aos componentes de sua equipe de trabalho diz:

"Quando se preparavam os dias da Codificação Espírita, que ando se convocavam trabalhadores dispostos à luta, quando se anunciavam as horas preditas, quando se arregimentavam seareiros para Terra, escutamos o convite celeste e nos apressamos a oferecer nossas parcas forças, quanto nós mesmos, a fim de servir, na ínfima condição de sulcadores do solo onde deveriam cair as sementes de luz do Evangelho do Reino."

Em "O Evangelho Segundo o Espiritismo", vamos encontrar duas mensagens assinadas por "Um Espírito amigo". A primeira, no Cap. IX, item 7 com o título "A paciência", escrita em Havre, 1.862. A segunda no Cap. XVIII itens 13 e 15 intitulada "Dar-se-á àquele que tem", psicografada no mesmo ano que a anterior, na cidade de Bordéus. Se observarmos bem, veremos a mesma Joanna que nos escreve hoje, ditando no passado uma bela página, como o modelo das nossas atitudes, em qualquer situação. No mundo Espiritual, Joanna estagia numa bonita região, próxima da Crosta terrestre.

Quando vários Espíritos ligados a ela, antigos cristãos equivocados se preparavam para reencarnar, reuniu a todos e planejou construir na Terra, sob o céu da Bahia no Brasil, uma cópia, embora imperfeita, da Comunidade onde estagiava no Plano Espiritual, com o objetivo de, redimindo os antigos cristãos, criar uma experiência educativa que demonstrasse a viabilidade de se viver numa comunidade, realmente cristã, nos dias atuais. Espíritos gravemente enfermos, não necessariamente vinculados aos seus orientadores encarnados, viriam na condições de órfãos, proporcionando oportunidade de burilamento, ao tempo em que, eles próprios, se iriam liberando das injunções cármicas mais dolorosas e avançando na direção de Jesus. Engenheiros capacitados foram convidados para traçarem os contornos gerais dos trabalhos e instruírem os pioneiros da futura Obra.

Quando estava tudo esboçado, Joanna procurou entrar em contato com Francisco de Assis, solicitando que examinasse os seus planos e auxiliasse na concretização dos mesmos, no Plano Material.

O "Pobrezinho de Deus" concordou com a Mentora e se prontificou a colaborar com a Obra, desde que "nessa Comunidade jamais fosse olvidado o amor aos infelizes do mundo, ou negada a Caridade aos "filhos do Calvário", nem se estabelecesse a presunção que é vérmina a destruir as melhores edificações do sentimento moral'. Quase um século foi passado, quando os obreiros do Senhor iniciaram na Terra, em 1947, a materialização dos planos de Joanna, que inspirava e orientava, secundada por Técnicos Espirituais dedicados que espalhavam ozônio especial pela psicosfera conturbada da região escolhida, onde seria construída a "Mansão do Caminho", nome dado à alusão à "Casa do Caminho" dos primeiros cristãos.

Nesse ínterim, os colaboradores foram reencarnando, em lugares diversos, em épocas diferente, com instrução variada e experiências diversificadas para, aos poucos, e quando necessário, serem "chamados" para atender aos compromissos assumidos na espiritualidade. Nem todos, porém, residiriam na Comunidade, mas, de onde se encontrassem, enviariam a sua ajuda, estenderiam a mensagem evangélica, solidários e vigilantes, ligados ao trabalho comum.

A Instituição vem atuando sempre comprometida a assistir os sofredores da Terra, os tombados nas provações, e os que se encontram a um passo da loucura e do suicídio.

Graças às atividades desenvolvidas, tanto no plano material como no plano espiritual, com a terapia de emergência a recém desencarnados e atendimentos especiais, a "Mansão do Caminho" adquiriu uma vibração de espiritualidade que suplantas humanas vibrações dos que ali residem e colaboram.

Fontes:

- Site Federação Espírita Brasileira (FEB);

- Livro: A Veneranda Joanna de Ângelis, de Celeste Santos e Divaldo Pereira Franco

Amélie Gabrielle Boudet

Madame Rivail (Sra. Allan Kardec) nasceu em Thiais, cidade do menor e mais populoso Departamento francês – o Sena, em 23 de novembro de 1795.

Filha de Julien-Louis Boudet, proprietário e antigo tabelião, e de Julie-Louise Seigneat de Lacombe, a menina Amélie, filha única, aliando desde cedo grande vivacidade e forte interesse pelos estudos, não foi um problema para os pais, que lhe proporcionaram apurados dotes intelectuais. 

Após cursar o colégio primário, estabeleceu-se em Paris com a família, ingressando numa Escola Normal, de onde saiu diplomada em professora de 1a. classe.

Revela-nos o Dr. Canuto de Abreu que a senhorinha Amélie também foi professora de Letras e Belas Artes, trazendo de encarnações passadas a tendência inata, por assim dizer, para a poesia e o desenho. Culta e inteligente, chegou a dar à luz três obras: “Contos Primaveris”, em 1825; “Noções de Desenho”, em 1826; “O Essencial em Belas Artes”, em 1828.

Vivendo em Paris, no mundo das letras e do ensino, quis o Destino que um dia a Srta. Amélie Boudet deparasse com o Professor Hippolyte Leon Denizard Rivail.

De estatura baixa, mas bem proporcionada, de olhos pardos e serenos, gentil e graciosa, vivaz nos gestos e nas palavras, denunciando inteligência admirável, Amélie Boudet, de sorriso terno e bondoso, logo se fez notar pelo Prof. Rivail, em quem reconheceu, de imediato, um homem verdadeiramente superior, culto e reto.

Em 6 de Fevereiro de 1832 eles se casaram. Amélie Boudet, tinha nove anos mais que o Prof. Rivail, mas a sua jovialidade física e espiritual a fazia aparentar a mesma idade do marido. Jamais essa diferença constituiu entrave à felicidade de ambos. 

Pouco tempo depois de concluir seus estudos com Pestalozzi, no famoso castelo suíço de Zahringen (Yverdun), o Prof. Rivail fundara em Paris um Instituto Técnico, com orientação baseada nos métodos pestalozzianos. Madame Rivail associou-se ao esposo na tarefa educacional que ele vinha desempenhando no referido Instituto há 5 anos.

A iniciativa humana e patriótica do Prof. Rivail não resistiu às leis sucessivas decretadas após a Revolução Francesa em prol do ensino, e a instrução pública vivia descurada do Governo, tanto que só em 1833, pela lei Guizot, é que oficial e definitivamente ficaria estabelecido o ensino primário na França.

Em 1835, o casal sofreu doloroso revés. O estabelecimento de ensino foi obrigado a fechar suas portas e a entrar em liquidação. Amélie, esposa altamente compreensiva, resignada e corajosa, conseguiu sobrepor-se a esses infaustos acontecimentos, e ambos se lançaram a maiores trabalhos. Durante o dia, enquanto Rivail se encarregava da contabilidade de casas comerciais, sua esposa colaborava de alguma forma na preparação dos cursos gratuitos que haviam organizado na própria residência, e que funcionaram de 1835 até 1840.

À noite, novamente juntos, não se davam a descanso justo e merecido, mas improdutivo. O problema da instrução às crianças e aos jovens tornara-se para o Prof. Rivail, como o fora para seu mestre Pestalozzi, sempre digno da maior atenção. Por isso, até mesmo as horas da noite ele as dividia para diferentes misteres relacionados com aquele problema, recebendo em todos a cooperação talentosa e espontânea de sua esposa. Além de escrever novas obras de ensino, que, aliás, tiveram grande aceitação, o Prof. Rivail realizava traduções de obras clássicas, preparava para os cursos de Lévi-Alvarès, frequentados por toda a juventude parisiense do bairro de São Germano, e se dedicava ainda, em dias certos da semana, juntamente com sua esposa, a professorar as matérias estatuídas para os já referidos cursos gratuitos.

“Aquele que encontrar uma mulher boa, encontrará o bem e achará o prazer no Senhor” - disse Salomão. Amélie Boudet era dessas mulheres boas, nobres e puras, e que, despojadas das vaidades mundanas, descobrem no matrimônio missões nobilitantes a serem desempenhadas.

Nos cursos públicos de Matemáticas e Astronomia que o Prof. Rivail bissemanalmente lecionou, de 1843 a 1848, e aos quais assistiram não só alunos, que também professores, no “Liceu Polimático” que fundou e dirigiu até 1850, não faltou em tempo algum o auxilio eficiente e constante de sua dedicada consorte.

Todas essas realizações e outras mais, a bem do povo, se originaram das palestras costumeiras entre os dois cônjuges, mas, como salientou a Condessa de Ségur, deve-se principalmente à mulher, as inspirações que os homens concretizam. No que toca à Madame Rivail, acreditamos que em muitas ocasiões, além de conselheira, foi ela a inspiradora de vários projetos que o marido pôs em execução. Aliás, é o que nos confirma o Sr. P. J. Leymarie ( que com ambos privara ) ao declarar que Kardec tinha em grande consideração as opiniões de sua esposa.

Graças principalmente às obras pedagógicas do professor Rivail, adotadas pela própria Universidade de França, e que tiveram sucessivas edições, ele e senhora alcançaram uma posição financeira satisfatória.

O nome Denizard Rivail tornou-se conhecido nos meios cultos e além do mais bastante respeitado. Estava aberto para ele o caminho da riqueza e da glória, no terreno da Pedagogia. Sobrar-lhe-ia, agora, mais tempo para dedicar-se à esposa, que na sua humildade e elevação de espírito jamais reclamara coisa alguma.

A ambos, porém, estava reservada uma missão, grandiosa pela sua importância universal, mas plena de exaustivos trabalhos e dolorosos espinhos.

O primeiro toque de chamada verificou-se em 1854, quando o Prof. Rivail foi atraído para os curiosos fenômenos das “mesas girantes”, então em voga no Mundo todo. Outros convites do Além se seguiram, e vemos, em meados de 1855, na casa da Família Baudin, o Prof. Rivail iniciar os seus primeiros estudos sérios sobre os citados fenômenos, entrevendo, ali, a chave do problema que durante milênios viveu na obscuridade.

Acompanhando o esposo nessas investigações, era de se ver a alegria emotiva com que ela tomava conhecimento dos fatos que descerravam para a Humanidade novos horizontes de felicidade. Após observações e experiências inúmeras, o professor Rivail pôs mãos à maravilhosa obra da Codificação, e é ainda de sua cara consorte, então com 60 anos, que ele recebe todo o apoio moral nesse cometimento. Tornou-se ela verdadeira secretária do esposo, secundando-o nos novos e bem mais árduos trabalhos que agora lhe tomavam todo o tempo, estimulando-o, incentivando-o no cumprimento de sua missão.

Sem dúvida, os espíritas, muito devemos a Amélie Boudet e estamos de acordo com o que acertadamente escreveu Samuel Smiles: os supremos atos da mulher geralmente permanecem ignorados, não saem à luz da admiração do mundo, porque são feitos na vida privada, longe dos olhos do público, pelo único amor do bem.

O nome de Madame Rivail enfileira-se assim, com muita justiça, entre os de inúmeras mulheres que a História registrou como dedicadas e fiéis colaboradoras dos seus esposos, sem as quais talvez eles não levassem a termo as suas missões. Tais foram, por exemplo, as valorosas esposas de Lavoisier, de Buckland, de Flaxman, de Huber, de Sir William Hamilton, de Stuart Mill, de Faraday, de Tom Hood, de Sir Napier, de Pestalozzi, de Lutero, e de tantos outros homens de gênio. A todas essas Grandes Mulheres, além daquelas muito esquecidas pela História, a Humanidade é devedora eterna!

Lançado O Livro dos Espíritos, da lavra de Allan Kardec, pseudônimo que tomou o Prof. Rivail, este, meses depois, a 1o. de Janeiro de 1858, com o apoio tão somente de sua esposa, deu a lume o primeiro número da “Revue Spirite”, periódico que alcançou mais de um século de existência grandemente benéfica ao Espiritismo.

Havia cerca de seis meses que na residência do casal Rivail, então situada à Rua dos Mártires n. 8, se efetuavam sessões bastante concorridas, exigindo da parte de Madame Rivail uma série de cuidados e atenções, que por vezes a deixavam extenuada. O local chegou a se tornar apertado para o elevado número de pessoas que ali compareciam, de sorte que em Abril de 1858 Allan Kardec fundava, fora do seu lar, a “Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas”. Mais uma obra de grave responsabilidade!

Tomar tais iniciativas naquela recuada época, em que o despotismo clerical ainda constituía uma força, não era tarefa para muitos. Havia necessidade de larga dose de devotamento, firmeza de vistas e verdadeiro espírito de sacrifício.

Ao casal Rivail é que coube, apesar de todos os escolhos e perigos que se lhe deparariam em a nova estrada, empreender, com a assistência e proteção do Alto, a maior revolução de ideias de que se teve notícia nos meados do século XIX.

Allan Kardec foi alvo do ódio, da injúria, da calúnia, da inveja, do ciúme e do despeito de inimigos gratuitos, que a todo custo queriam conservar a luz sob o alqueire. 

Intrigas, traições, insultos, ingratidões, tudo de mal cercou o ilustre reformador, mas em todos os momentos de provas e dificuldades sempre encontrou, no terno afeto de sua nobre esposa, amparo e consolação, confirmando-se essas palavras de Simalen: “A mulher é a estrela de bonança nos temporais da vida.”

Com vasta correspondência epistolar, proveniente da França e de vários outros países, não fosse a ajuda de sua esposa nesse setor, sem dúvida não sobraria tempo para Allan Kardec se dedicar ao preparo dos livros da Codificação e de sua revista.

Uma série de viagens ( em 1860, 1861, 1862, 1864, etc., ) realizou Kardec, percorrendo mais de vinte cidades francesas, além de várias outras da Suíça e da Bélgica, em todas semeando as ideias espíritas. Sua veneranda consorte, sempre que suas forças lhe permitiam, acompanhou-o em muitas dessas viagens, cujas despesas, cumpre informar, corriam por conta do próprio casal. Parafraseando o escritor Carlyle, poder-se-ia dizer que Madame Allan Kardec, pelo espaço de quase quarenta anos, foi a companheira amante e fiel do seu marido, e com seus atos e suas palavras sempre o ajudou em tudo quanto ele empreendeu de digno e de bom.

Aos 31 de Março de 1869, com 65 anos de idade, desencarnava, subitamente, Allan Kardec, quando ultimava os preparativos para a mudança de residência. Foi uma perda irreparável para o mundo espiritista, lançando em consternação a todos quantos o amaram. Madame Allan Kardec, quer partilhara com admirável resignação as desilusões e os infortúnios do esposo, agora, com os cabelos nevados pelos seus 74 anos de existência e a alma sublimada pelos ensinos dos Espíritos do Senhor, suportaria qualquer realidade mais dura. Ante a partida do querido companheiro para a Espiritualidade, portou-se como verdadeira espírita, cheia de fé e estoicismo, conquanto, como é natural, abalada no profundo do ser.

No cemitério de Montmartre, onde, com simplicidade, aos 2 de Abril se realizou o sepultamento dos despojos do mestre, comparecia uma multidão de mais de mil pessoas. Discursaram diversos oradores, discípulos dedicados de Kardec, e por último o Sr. E. Muller, que logo no princípio do seu elogio fúnebre ao querido extinto assim se expressou: “Falo em nome de sua viúva, da qual lhe foi companheira fiel e ditosa durante trinta e sete anos de felicidade sem nuvens nem desgostos, daquela que lhe compartiu as crenças e os trabalhos, as vicissitudes e as alegrias, e que se orgulhava da pureza dos costumes, da honestidade absoluta e do desinteresse sublime do esposo; hoje, sozinha, é ela quem nos dá a todos o exemplo de coragem, de tolerância, do perdão das injúrias e do dever escrupulosamente cumprido.”

Madame Allan Kardec recebeu da França e do estrangeiro, numerosas e efusivas manifestações de simpatia e encorajamento, o que lhe trouxe novas forças para o prosseguimento da obra do seu amado esposo.

Desejando os espiritistas franceses perpetuar num monumento o seu testemunho de profundo reconhecimento à memória do inesquecível mestre, consultaram nesse sentido a viúva, que, sensibilizada com aqueles desejos humanos mas sinceros, anuiu, encarregando desde logo uma comissão para tomar as necessárias providências. Obedecendo a um desenho do Sr. Sebille, foi então levantado no cemitério do Père-Lachaise um dólmen, constituído de três pedras de granito puro, em posição vertical, sobre as quais se colocou uma quarta pedra, tabular, ligeiramente inclinada, e pesando seis toneladas. No interior deste dólmen, sobre uma coluna também de pedra, fixou-se um busto, em bronze, de Kardec.

Esta nova morada dos despojos mortais do Codificador foi inaugurada em 31 de Março de 1870 , e nessa ocasião o Sr. Levent, vice- presidente da “Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas”, discursou, a pedido de Madame Allan Kardec, em nome dela e dos amigos.

Cerca de dois meses após o decesso do excelso missionário de Lyon, sua esposa, no desejo louvável de contribuir para a realização dos plano futuros que ele tivera em mente, e de cujas obras, revista e Livraria passou a ser a única proprietária legal, houve por bem, no interesse da Doutrina, conceder todos os anos certa verba para uma “Caixa Geral do Espiritismo”, cujos fundos seriam aplicados na aquisição de propriedades, a fim de que pudessem ser remediadas quaisquer eventualidades futuras.

Outras sábias decisões foram por ela tomadas no sentido de salvaguardar a propaganda do Espiritismo, sendo, por isso, bastante apreciado pelos espíritas de todo o Mundo o seu nobre desinteresse e devotamento.

Apesar de sua avançada idade, Madame Allan Kardec demonstrava um espírito de trabalho fora do comum, fazendo questão de tudo gerir pessoalmente, cuidando de assuntos diversos, que demandariam várias cabeças. Além de comparecer à reuniões, para as quais era convidada, todos os anos presidia à belíssima sessão em que se comemorava o Dia dos Mortos, e na qual, após vários oradores mostrarem o que em verdade significa a morte à luz do Espiritismo, expressivas comunicações dos Espíritos Superiores eram recebidas por diversos médiuns.

Se Madame Allan Kardec – conforme se lê em Revue Spirite de 1869 – se entregasse ao seu interesse pessoal, deixando que as coisas andassem por si mesmas e sem preocupação de sua parte, ela facilmente poderia assegurar tranquilidade e repouso à sua velhice. Mas, colocando-se num ponto de vista superior, e guiada, além disso, pela certeza de que Allan Kardec com ela contava para prosseguir, no rumo já traçado, a obra moralizadora que lhe foi objeto de toda a solicitude durante os últimos anos de vida, Madame Allan Kardec não hesitou um só instante. Profundamente convencida da verdade dos ensinos espíritas, ela buscou garantir a vitalidade do Espiritismo no futuro, e, conforme ela mesma o disse, melhor não saberia aplicar o tempo que ainda lhe restava na Terra, antes de reunir- se ao esposo.

Esforçando-se por concretizar os planos expostos por Allan Kardec em “Revue Spirite” de 1868, ela conseguiu, depois de cuidadosos estudos feitos conjuntamente com alguns dos velhos discípulos de Kardec, fundar a “Sociedade Anônima do Espiritismo”.

Destinada à vulgarização do Espiritismo por todos os meios permitidos pelas leis, a referida sociedade tinha, contudo, como fito principal, a continuação da “Revue Spirite”, a publicação das obras de Kardec e bem assim de todos os livros que tratassem do Espiritismo.

Graças, pois, à visão, ao empenho, ao devotamento sem limites de Madame Allan Kardec, o Espiritismo cresceu a passos de gigante, não só na França, que também no Mundo todo.

Estafantes eram os afazeres dessa admirável mulher, cuja idade já lhe exigia repouso físico e sossego de espírito. Bem cedo, entretanto, os Céus a socorreram. O Sr. P. G. Leymarie, um dos mais fervorosos discípulos de Kardec desde 1858, médium, homem honesto e trabalhador incansável, assumiu em 1871 a gerência da Revue Spirite e da Livraria, e logo depois, com a renúncia dos companheiros de administração da sociedade anônima, sozinho tomou sob os ombros os pesados encargos da direção. Daí por diante, foi ele o braço direito de Madame Allan Kardec, sempre acatando com respeito as instruções emanadas da venerável anciã, permitindo que ela terminasse seus dias em paz e confiante no progresso contínuo do Espiritismo.

Parecendo muito comercial, aos olhos de alguns espíritas puritanos, o título dado à Sociedade, Madame Allan Kardec, que também nunca simpatizara com esse título, mas que o aceitara por causa de certas conveniências, resolveu, na assembleia geral de 18 de Outubro de 1873, dar-lhe novo nome: “Sociedade para a Continuação das Obras Espíritas de Allan Kardec”, satisfazendo com isso a gregos e troianos.

Muito ainda fez essa extraordinária mulher a prol do Espiritismo e de todos quantos lhe pediam um conselho ou uma palavra de consolo, até que em 21 de Janeiro de 1883, às 5 horas da madrugada, docemente, com rara lucidez der espírito, com aquele mesmo gracioso e meigo sorriso que sempre lhe brincava nos lábios, desatou-se dos últimos laços que a prendiam à matéria.

A querida velhinha tinha então 87 anos, e nessa idade, contam os que a conheceram, ainda lia sem precisar de óculos e escrevia ao mesmo tempo corretamente e com letra firme.

Aplicando-lhe as expressões de célebre escritor, pode-se dizer, sem nenhum excesso, que “sua existência inteira foi um poema cheio de coragem, perseverança, caridade e sabedoria”.

Compreensível, pois, era a consternação que atingiu a família espírita em todos os quadrantes do globo. De acordo com o seus próprios desejos, o enterro de Madame Allan Kardec foi simples e espiriticamente realizado, saindo o féretro de sua residência, na Avenida e Vila Ségur n. 39, para o Père-Lachaise, a 12 quilômetros de distância.

Grande multidão, composta de pessoas humildes e de destaque, compareceu em 23 de Janeiro às exéquias junto ao dólmen de Kardec, onde os despojos da velhinha foram inumados e onde todos os anos, até à sua desencarnação, ela compareceu às solenidades de 31 de março.

Na coluna que suporta o busto do Codificador foram depois gravados, à esquerda, esses dizeres em letras maiúsculas: AMÈLIE GABRIELLE BOUDET – VEUVE ALLAN KARDEC – 21 NOVEMBRE 1795 – 21 JANVIER 1883.

No ato do sepultamento falaram os Srs. P.G. Leymarie, em nome de todos os espíritas e da “Sociedade para a Continuação das Obras Espíritas de Allan Kardec”, Charles Fauvety, ilustre escritor e presidente da “Sociedade Científica de Estudos Psicológicos”, e bem assim representantes de outras Instituições e amigos, como Gabriel Delanne, Cot, Carrier, J. Camille Chaigneau, poeta e escritor, Lecoq, Georges Cochet, Louis Vignon, que dedicou delicados versos à querida extinta, o Dr. Josset e a distinta escritora, a Sra. Sofia Rosen-Dufaure, todos fazendo sobressair os reais méritos daquela digna sucessora de Kardec. Por fim, com uma prece feita pelo Sr. Warroquier, os presentes se dispersaram em silêncio.

A nota mais tocante daquelas homenagens póstumas foi dada pelo Sr. Lecoq. Leu ele, para alegria de todos, bela comunicação mediúnica de Antônio de Pádua, recebida em 22 de Janeiro, na qual esse iluminado Espírito descrevia a brilhante recepção com que elevados Amigos do Espaço, juntamente com Allan Kardec, acolheram aquele ser bem aventurado.

No improviso do Sr. P.G. Leymarie, este relembrou, em traços rápidos, algo da vida operosa da veneranda extinta, da sua nobreza d'alma, afirmando, entre outras coisas, que a publicação tanto de O Livro dos Espíritos, quanto da Revue Spirite, se deveu em grande parte à firmeza de ânimo, à insistência, à perseverança de Madame Allan Kardec.

Não deixando herdeiros diretos, pois que não teve filhos, por testamento fez ela sua legatária universal a “Sociedade para Continuação das Obras Espíritas de Allan Kardec”. Embora uma parenta sua, já bem idosa, e os filhos desta intentassem anular essas disposições testamentárias, alegando que ela não estava em perfeito juízo, nada, entretanto, conseguiram, pois as provas em contrário foram esmagadoras.

Em 26 de Janeiro de 1883, o conceituado médium parisiense Sr. E. Cordurié recebia espontaneamente uma mensagem assinada pelo Espírito de Madame Allan Kardec, logo seguida de outra, da autoria de seu esposo. Singelas na forma, belas nos conceitos, tinham ainda um sopro de imortalidade e comprovavam que a vida continua...

Fonte: WANTUIL, Zêus, Grandes Espíritas do Brasil, p. 51

François Guizot

Historiador e estadista francês nascido em Nîmes, que dedicou grande parte da vida a pôr em prática seu pensamento político, de tendência monarquista e conservadora. 

Foi educado na rigidez do calvinismo, estudou em Genebra e Paris e conquistou prestígio como professor de história moderna na Universidade de Paris. Foi nomeado secretário do Ministério do Interior (1814) e depois ocupou a secretaria do Ministério da Justiça. Sua colaboração com o liberal Adolphe Thiers caracterizou a política da chamada monarquia francesa.

Destituído do cargo de professor (1822), foi readmitido (1828), apoiou a ascensão da monarquia (1830) com Luís Filipe de Orléans e chefiou diferentes ministérios como representante dos conservadores. Estabeleceu o princípio segundo o qual todos têm direito à educação e favoreceu a atividade da alta burguesia.

Ministro do Exterior (1840-1847), buscou entendimento com o Reino Unido, mas com a proclamação da república (1848) esteve exilado e, posteriormente, não teve mais influência política. Expôs suas idéias políticas em Du gouvernement représentatif et de l'état actuel de la France (1816). Morreu em Val-Richer e entre as obras históricas que deixou destacaram-se Histoire de la civilisation en Europe (1828) e Histoire de la civilisation en France (1829-1832)

Fonte: Biografias - Unidade Acadêmica de Engenharia Civil / UFCG

Kardec, o Pedagogo

Com apenas vinte anos de idade (1824), o jovem e talentoso professor Rivail dava, a público, pela tipografia de Pillet Ainé, de Paris, o seu primeiro livro: “Curso Prático de Aritmética, segundo o Método de Pestalozzi, com modificações”. Eram dois tomos em formato grande, recomendados aos educadores e às mães de família. 

Essa valiosa obra, que teve várias reedições, abre-se com um “Discurso Preliminar” em que Rivail recorda um dos seus primeiros e mais queridos mestres e escreve: «Devo aqui prestar homenagem a uma pessoa que protegeu minha infância, o sr. Boniface, discípulo de Pestalozzi, professor tão distinto pela sua erudição como pelo seu talento para ensinar. 

Ninguém mais do que ele possui a arte de fazer-se amado pelos seus alunos. Foi um dos meus primeiros mestres e sempre me hei de lembrar com que prazer meus colegas e eu frequentávamos as suas aulas. 

Cheio de amor pela infância, ao mesmo tempo que verdadeiro filantropo, fundou uma escola à Rua de Tournon, no bairro de Sain-Germain, que bem mereceu os elogios que lhe dispensam as pessoas mais distintas e merecedoras. Ë autor de vários trabalhos, entre os quais um “Curso de Desenho Linear”, muito estimado».

Daí se poderia deduzir que Rivail frequentou a escola da Rua de Tournon. O sr. Boniface deve ter sido parisiense. Ora, ao que parece, Rivail não foi a Paris antes de 1820. De qualquer maneira, foi graças a este mestre que Rivail escreveu sua primeira obra. 

“O sr. Boniface – diz ele – houve por bem ajudar-me com seus conselhos”, melhor ainda, sugeriu-lhe a ideia desse “Curso”, no qual explica o método do professor pestaloziano e os princípios que lhe formam a base, revelando a seguir o seu alto espírito altruístico, ao declarar: “Desejando tornar-me útil aos jovens e concorrer com todas as minhas forças para aplainar-lhes a trilha árdua dos estudos, aproveitarei, com empenho, os conselhos que de boa vontade me chegarem de pessoas que me são superiores pelo saber e pela experiência, considerando que a aprovação dos homens de bem sempre me será gratíssima recompensa”.

Quem assim se expressava era um jovem de vinte anos, mal saído dos bancos escolares, mas já vivamente interessado em libertar da ignorância, com todas as suas perniciosas conseqüências, a juventude de sua pátria. Com esse primeiro livro, Rivail iniciou na França a sua missão de educador e pedagogo emérito, ali se afirmando como a maior autoridade no método Pestalozzi.

Durante trinta anos, sobrepondo-se às incompreensões e aos reveses, empenhou-se de corpo e alma em instruir e educar um sem número de crianças e jovens parisienses, segundo modernas práticas pedagógicas por ele mesmo criadas, muitas das quais só mais tarde, no século XX, seriam retomadas e largamente difundidas por ilustres reformadores do ensino.

Quando o Prof. Rivail deixou a Suíça, rumo a Paris, ocupou-se em traduzir para o alemão obras de grandes autores clássicos da França, dando preferência aos escritos de Fénelon, alguns dos quais, como “Telêmaco” receberam inteligentes notas e foram publicados posteriormente para uso nos educandários.

Já nessa época Rivail era lingüista notável e poliglota, tanto que conhecia a fundo e falava correntemente o alemão, o inglês, o italiano e o castelhano, podendo exprimir-se facilmente em holandês e possuindo sólidos conhecimentos de latim, grego e gaulês.

Fundou e dirigiu em Paris uma Escola do Primeiro Grau (1825), que não sabemos por quanto tempo subsistiu. Sabemos que ele criava, logo em seguida, um Instituto Técnico e que rapidamente ganhou fama. Situava-se à Rua de Sêvres nº 35 e era semelhante ao Instituto de Yverdun. Posteriormente auxiliado pela Professora Amélie Gabrielle Boudet, com quem se consorciou em 1832, desenvolveu ali notável trabalho de aprimoramento da inteligência de centenas de alunos, aos quais carinhosamente chamava “meus amigos”, dando-lhes repetidas vezes este conselho: “Instruindo-vos, trabalhais para a vossa própria felicidade”.

O associado do Prof. Rivail – ao que parece um seu tio – tinha paixão pelo jogo; ele arruinou o sobrinho perdendo grandes quantias em Spa e Aixla-Chapelle. Rivail liquidou o Instituto, restando da partilha 45.000 francos para cada um dos sócios. Essa soma foi colocada pelo casal Rivail nas mãos de amigos íntimos que fizeram maus negócios e cuja falência deixou sem nada os credores.

Necessitando de capital para dar prosseguimento à sua obra educativa, o Prof. Rivail empregou-se como “contrôleur” no Théatre des Délassements Comiques. então funcionando no Boulevard du Temple, episódio que os adversários do Espiritismo não se esquecem de lembrar, fazendo-o com ironia e sarcasmo. Afirma o jornalista parisiense René du Merzer, do qual promana a informação, revelada logo após o sepultamento de Kardec, que pouco depois o Professor Denizard Rivail abandonava o referido Teatro para trabalhar como guarda-livros na livraria religiosa de Pélagaud e nos escritórios de “L’Univers, influente folha católica (se assim se pode considerá-la) fundada em 1836.

Ocupado durante todo o dia, dedicava as noites à elaboração de novos e importantes livros de ensino e pedagogia, à tradução de obras do inglês e do alemão e à preparação de todos os cursos que ele, juntamente com o Prof. Lévi Alvarés, dava a alunos de ambos os sexos no Faubourg de Saint-Germain. “A educação, – frisava na época o grande discípulo de Pestalozzi – é a obra de minha vida, e todos os meus instantes eu os dedico a esta matéria”

Fundando à Rua de Sêvres n.º 35, um Liceu Polimático, ali organizou, de 1835 a 1850, cursos gratuitos de Química, Física, Astronomia e Fisiologia, “empresa digna de encômios em todos os tempos, mas, sobretudo, numa época que só um número muito reduzido de inteligências ousava enveredar por esse caminho”.

Lecionou também Matemática e Retórica, sendo vastos os seus conhecimentos filológicos e de gramática da língua francesa, como o demonstram algumas obras de sua autoria. Preconizou o desenho geométrico, a leitura ponderada, os exercícios práticos de redação, e considerou útil o estudo e o exercício da música vocal.

Aplicando todos os seus esforços no desenvolvimento das virtualidades intelectuais e morais da juventude, não lhe pode ser contradita a formação de humanista cristão. Dirigiu críticas ao método pelo qual se aprendia História, em que dava importância demasiada a datas e a fatos políticos, salientando que o verdadeiro objetivo da História deve ser “o estudo dos usos e costumes, do progresso artístico e científico das várias épocas”. A fim de obter maior

aproveitamento dos alunos, chegou a inventar um quadro mnemônico que facilitasse o estudo da História da França. Chef d’ Institution da Academia de Paris, o Prof. Denizard Rivail tornou-se membro de dezenas de Sociedades e Institutos culturais de sua Pátria, quase todos da capital.

É bastante longa a lista de obras didáticas que escreveu, só ou com

Levy-Alvarés. O ano de publicação é, às vezes, incerto, mas julgamos útil

lembrar alguns títulos, para dar Idéia de sua atividade pedagógica:


“Gramática normal dos exames”, ou soluções racionais de todas as perguntas

sobre gramática francesa, pro­postas nos exames da Sorbonne e em todas as

Academias da França para obtenção de certificados e diplomas de habilitação e

para admissão ao funcionalismo público, resumindo a opinião da Academia Francesa

e de vá­rios gramáticos sobre os princípios e dificuldades da língua francesa.

Obra escrita em colaboração com Lévy-Al­varés.


“Curso de cálculo de cabeça”, pelo método Pestalozzi (para uso das mães de

família e dos professores, no ensino de crianças pequenas).


“Tratado de Aritmética”- (3.000 exercícios e problemas graduados). Único que

contém o método adotado pelo comércio e pelos bancos para o cálculo de juros.


“Questionário gramatical, literário e filosófico”, em colaboração com

Le­vy-Alvarés.


“Manual dos exames para certificados de habilitação”.


“Catecismo gramatical da língua francesa”.


“Soluções racionais das perguntas e dos problemas de aritmética e de

geometria usual”, propostos nos exames do “Hôtel de Ville” e da Sorbone.


“Solução dos exercícios e problemas do tratado completo de aritmética».


Suas últimas obras pedagógicas publicadas foram:


“Ditados normais dos exames do “Hôtel de Ville” e da Sorbonne”.


“Ditados especiais sobre as dificuldades ortográficas”.


As suas obras são adotadas pela Universidade de França, o que vem coroar, de

certa maneira, um quarto de século de atividades ao serviço da instrução

pública.


Aliás Rivail não renuncia aos seus “Planos e Projetos”. Depois do “Pro­grama

de estudos conformes ao plano de instrução”, editado em 1838, publica às suas

custas, um “Projeto de reforma”, em que trata dos exames e dos educandários para

jovens, acompanha­do de uma proposta concernente à adoção das obras clássicas

pela Universidade, a respeito do novo projeto de lei do ensino, O Projeto

é de 1847 e a indicação “impresso na casa do autor, Rua Mauconseil, 18, leva-nos

a crer que Rivail se tivesse mudado da Rua de Sévres. Também é interessante

notar que, entre os seus títulos citados na obra «Membro da Real Academia de

Ciências Naturais de França, etc. já não figura o de “discípulo de Pes­talozzi”.

Isto não significa, entretanto, que o autor tivesse esquecido completamente as

lições do mestre sobre a “natureza da criança”, o “papel da mãe e do

Professor-Jardineiro”.


Vemos que Rivail, ao término de longa atividade e experiência pedagógica

estava preparado para a outra tarefa, a fundação do Espiritismo. Foi graças à

sua clareza e concisão – rigor todo cartesiano – que ele conseguiu por em

evidência tudo o que era válido no fato espírita. Em toda a obra espírita não

encontramos um episódio sequer em que Allan Kardec se deixasse arrastar por

palavras descontroladas ou por alguma divagação inspirada. Isto prova que soube

canalizar o seu substrato religioso no rumo da explicação positiva. E é

exatamente isto que constitui a mais profunda característica do Espiritismo.

Mais do que nunca, somos levados a pensar que a vida de Allan Kardec e a

fundação do Espiritismo Científico são coincidentes.


À força de escrever obras de aritmética, de geometria, de química, de física,

de história, de literatura, etc,. Rivail tinha-se tornado homem de grande

instrução. Nada lhe era desconhecido. Sua curiosidade baseava-se em sólido

método de pesquisas. Embora trabalhando para a educação das crianças do seu

país, transforma-se em homem sem pátria, sem ligações particulares. É o homem

universal. As ciências, o estudo das humanidades, ensinaram-lhe que o homem,

para ser verdadeiramente livre, deve tomar consciência de seu universalismo. O

espírito de tolerância, de caridade, deve ser mais forte que o de clã, de seita

ou de igreja, de grupo limitado no tempo e no espaço.


Ao cessar a publicação de seus trabalhos pedagógicos, Rivail passou a se

interessar mais pelos problemas sociais. Ao mesmo tempo sua curiosidade era

despertada para os fenômenos “Insólitos”, que se produziam e eram observados na

América, na Inglaterra e na Alemanha. A carreira do Prof. Rivail estava.

chegando ao fim. Allan Kardec vai surgir e não é tão somente.